segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O que o uso da energia nuclear tem nos ensinado?

Por Marcus Welby-Borges*


Era uma segunda-feira quando a “Little Boy” foi lançada e três dias depois “Fat Man” completava a destruição e tudo agora era um cemitério sem uma única lápide no chão.
Talvez a frase acima nos dê uma vaga ideia de uma das maiores atrocidades do século 20 que recordamos durante a semana passada: os bombardeios das cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki que aconteceram mais precisamente nos dias 06 e 09 de agosto de 1945, respectivamente. A força aérea americana, sob o pretexto de forçar a rendição do Japão ao final da Segunda Guerra Mundial, decidiu demonstrar sua supremacia do ponto de vista bélico testando sua nova tecnologia de bombas atômicas cujo poder e consequências eram ainda desconhecidos, já que não tinha sido usada anteriormente.
Detalhes a respeito do ocorrido podem e devem ser buscados nos relatos dos livros de história. No entanto, vale lembrar que esse foi o primeiro massacre por armas de destruição maciça sobre uma população civil e que deixou um número de mortos que variou entre 140 mil em Hiroshima e 80 mil em Nagasaki, sendo algumas estimativas consideravelmente muito mais elevadas se contabilizadas as mortes que sucederam à exposição radioativa.
Sob uma perspectiva completamente diferente, podemos também relembrar que essa mesma tecnologia capaz de dizimar tantas vidas numa guerra tem sido responsável por salvar milhares de outras vidas quando bem utilizada. A Medicina Nuclear é uma área em vasta expansão e utiliza elementos radioativos em técnicas de imagem, diagnóstico e terapêutica que ampliaram significativamente a sobrevida ou salvam milhares de vidas de pacientes na atualidade.
Entre esses dois extremos está a figura admirável de uma mulher de fibra, a polonesa Maria Sklodowska, mais tarde conhecida como Marie Curie ou Madame Curie. Primeira e única pessoa a receber duas vezes o Prêmio Nobel em áreas científicas: Física (1903) e Química (1911), pelas suas descobertas na área da radioatividade e elementos químicos radioativos. Sua história é digna de ser conhecida por representar um exemplo de simplicidade, dedicação e perseverança que permitiu um maior conhecimento a respeito da natureza e propriedades da radioatividade. Morre aos 67 anos de leucemia, provavelmente devido à exposição maciça a radiações durante o seu trabalho.
Após 66 anos dos episódios de Hiroshima e Nagasaki, dos efeitos catastróficos ou benéficos da energia nuclear sob vida no planeta e de tantos acontecimentos envolvendo o uso de reatores nucleares não mencionados aqui, mas que incluem Chernobyl (1986) e Fukushima (2011), temos um indicativo de como temos utilizado a energia nuclear. Marie Curie nos ensinou muito a respeito do potencial das radiações ionizantes e se ainda estivesse entre nós acreditamos que, fazendo um balanço das situações apresentadas acima, a sua principal reflexão seria: O que o uso da energia nuclear tem nos ensinado?


*Marcus Welby-Borges é Mestre e Doutor em Patologia e Prof. Adjunto da Universidade Federal da Bahia e, atendendo a um convite dos responsáveis pelo Blog Responsabilidade em Foco, apresenta uma reflexão sobre o tema em questão.

2 comentários:

  1. Devo admitir que jamais enxerguei a energia nuclear como possibilidade de conceder vida, sempre associei a pessoas perdendo suas vidas. Ao ler este texto me veio à lembrança a musica Rosa de Hiroshima, cantada por Ney Matogrosso. Tem um trecho que diz ”...não se esqueçam da rosa de hiroshima, a rosa hereditária, a rosa radioativa, estúpida e inválida...”
    Rosa hereditária, explosão que de longe parecia uma gigantesca rosa cinza com um poder avassalador de destruição, que marcaria gerações com seus efeitos....
    Fico feliz em visualizar, por meio desse texto, os efeitos positivos da Medicina Nuclear capazes de salvar vidas.

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  2. Um texto dialético, que apresenta uma argumentação que defeni e distingue o conceito utilitário de energia nuclear. Como historiador tenho acompanhado alguns fatos marcantes que envolve o uso da tecnologia;a área de saúde explicita com muita desenvoltura o seu avanço espantoso com pesquisas e soluções de garantia da qualidade de vida da coletividade mundial, fazendo uso da medicina nuclear. Não se pode perder de vista, que o avanço das pesquisas, o aprimoramento e utilização da medicina nuclear no cotidiano da comunidade mundial geralmente estão ligados a um conflito social de porte, como foi o caso da Segunda Guerra Mundial, que tanto fez uso da engenharia nuclear. Não são palavras minhas, mas já caiu no domínio público, e assim ouso citar: "A Medicina Nuclear está para a Fisiologia como a Radiologia para a Anatomia". Gilvan Júnior

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