Carla Coelho |
No portão de entrada nos esperava Carla Coelho, com um sorriso no rosto e plena demonstração da paixão pelo que faz. Passando pelo portão, nos deparamos com um lindo projeto, que transforma o lixo tecnológico em benefícios que alcançam três vertentes:
Ambiental: Dando correto direcionamento ao lixo tecnológico e aumentando sua vida útil.
Social: Tirando os jovens da situação de vulnerabilidade social, dando condições para que os mesmos ingressem no mercado de trabalho, isso é o principal objetivo da ONG PANGEA que é a gestora do projeto.
Inclusão Digital: Os equipamentos depois de recondicionados são montados kits que são direcionados a instituições que tenham projetos na área de inclusão.
“Nós hoje começamos a segunda semana do Meio Ambiente. Eles estão comprometidos em reestruturar o espaço físico, separando o material, tudo bonitinho, e estão super empolgados...” Carla Coelho
RF: Como funciona o Projeto Usina Digital?
Carla Coelho: O projeto contempla jovens entre 16 e 24 anos, que estudem nas escolas Municipais e Estaduais de Lauro de Freitas. Mais de 70% dos jovens, fazem parte de duas escolas indicadas pela Prefeitura de Lauro de Freitas. Todos os jovens têm que residir em Lauro de Freitas, e estar em situação de vulnerabilidade social, não tendo condições de proporcionar por recursos próprios os cursos que são oferecidos no CRC – Centro de Recondicionamento de Computadores. O Projeto Usina Digital oferece curso profissionalizante de manutenção de micro computador e qualificação profissional e pessoal, com duração de cinco meses.
RF: Além do curso de profissionalização existe algum trabalho paralelo para garantir a inclusão desses jovens no mercado de trabalho?
Carla Coelho: Nós não damos só a parte profissional para esses jovens, nós os preparamos para ingressar no mercado de trabalho fazendo deles gestores de suas próprias vidas. Toda essa preparação acontece para que eles entrem no mercado de trabalho, realmente qualificados, apto para estarem lá. O curso conta com equipe de pedagogia auxiliando esses jovens no processo de reconhecimento de si mesmo, como cidadão. Esse conhecimento tem que existir, é no processo de identidade, da sexualidade e responsabilidade de cidadania. Na sexta-feira, os nossos jovens foram visitar o MAM – Museu de Arte Moderna, nós proporcionamos além de conhecimento a parte cultural, pois é importante possibilitar a esses jovens acesso a algumas coisas que eles não tinham.
RF: Quem é responsável pelo CRC?
Carla Coelho: Esse é um Projeto Federal, por intermédio do Ministério do Planejamento, que está passando por uma transferência (Ministério do Planejamento para o Ministério das Comunicações). O Projeto Usina Digital, tem como gestora a ONG PANGEA, seu coordenador é o Sr José Pivosa. O Município de Lauro de Freitas - BA foi o primeiro contemplado do Nordeste a receber o Projeto Usina Digital. Hoje já existe uma unidade em Recife, no total são sete unidades a nível Brasil.
RF: Quantos jovens o CRC Bahia já formou? O CRC possui vínculo com empresas para depois de formados esses jovens alcançarem o mercado de trabalho?
Carla Coelho: Formamos 30 jovens. Estamos buscando essas parcerias, já temos ex-alunos na Prefeitura de Lauro de Freitas, outros com bolsa integral na UNIME e SENAI. Eu não posso dizer quantos foram alocados no mercado de trabalho, porque esse número muda diariamente, eles estão sempre ligando para falar das oportunidades. No CRC a cada turma formada quatro alunos tornam-se monitores e futuramente os mesmos serão direcionados para empresas com interesse nos nossos jovens.
RF: Caso alguém queira doar um equipamento para o CRC, como deve proceder?
Carla Coelho: O Projeto Usina Digital recebe, através de doações de empresas públicas, privadas e de pessoas físicas, qualquer tipo de equipamentos de informática. É só trazer aqui no centro (Rua Leonardo B. da Silva, lote 08, Lauro de Freitas), mesmo que seja de outro município. Através desses equipamentos, podemos oferecer cursos para os nossos jovens. Hoje a comunidade de Lauro de Freitas já sente a diferença, porque os nossos jovens saem daqui disseminadores do que aprenderam, mais um na comunidade fazendo a diferença. Esse é o objetivo do CRC proporcionar a inclusão digital, oportunidade através dos cursos que oferecemos.
RF: Como é feita a separação desses equipamentos que vocês recebem?
Carla Coelho: Esses equipamentos quando chegam no centro sofrem uma triagem onde é separado o que pode ser recondicionado do material inservível. O que pode ser recondicionado, no centro, jovens que recebem o curso profissionalizante, faz esse recondicionamento juntamente com a equipe técnica. Esses equipamentos depois de recondicionados são montados kits e direcionados para instituições, determinada pela coordenação nacional. A coordenação nacional é composta por um representante de cada CRCs e secretaria de Inclusão Digital, Ciência e Tecnologia entre outros que montam essa coordenação. A técnica de recondicionamento proporciona aos alunos o aprendizado na manutenção de micro computador, aliás, esse é o foco do CRC.
RF: Quantos kits vocês já doaram?
Carla Coelho: No seu primeiro ano de funcionamento, 2010, o CRC distribuiu cerca de 180 computadores e equipamentos recondicionados (12 kits). Não estamos doando mais, porque Infelizmente, para doação precisamos de uma logística de entrega. Hoje eu tenho na casa 10 kits prontos mais não tenho como entregar, e as instituições não têm como retirar.
Carla Coelho: As Instituições como creches, escolas públicas, igrejas, terreiros, associações, que tenham projetos na área de inclusão. Basta estar dentro dos parâmetros exigidos no cadastramento que é feito, online, pelo site do ministério www.computadoresparainclusao.gov.br, atendendo as exigências do ministério elas são contempladas com os kits. Os kits normalmente saem com dez computadores, um servidor e uma impressora.
RF: Mesmo que essa instituição não faça parte do município de Lauro de Freitas?
Carla Coelho: Não tem problema. Hoje o CRC atende a nível Brasil. O CRC Lauro de Freitas - BA atende toda a Bahia. Além de atender o projeto computadores para inclusão nós atendemos também os tele centros BR que é outro projeto do governo Federal que também beneficia instituições com kits de computadores recondicionados.
RF: Qual o destino dos equipamentos que não tem condição de uso?
Carla Coelho: O projeto conta com a parceria de duas cooperativas: CAEC, que também funciona aqui em Lauro de Freitas e a Coperbrava que é o principal destino dos materiais inservíveis, já que se trata de equipamentos que podem causar danos ao meio ambiente como os monitores de CRT, que são altamente tóxicos, tem chumbo, cádio, dentre outros materiais tóxicos. Então esse material é repassado para essas cooperativas onde sofrerão o devido processo de desmontagem, descontaminação e direcionamento para empresas que façam a reciclagem.
RF: Como funcionam as parcerias?
Carla Coelho: Parceria para mim é primordial, eu tenho que dar os louros às pessoas que merecem: a ONG PANGEA, a Prefeitura de Lauro de Freitas, que tem uma responsabilidade imensa nesse projeto, é nossa principal parceira, tem presença atuante no projeto, cedeu espaço, transporte para os jovens; aliás, somente o CRC Bahia tem transporte para os jovens. Hoje nossos maiores doadores são as empresas de Lauro de Freitas.
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